Ao longo dos séculos, a domesticação foi modificando o cão tanto no aspecto físico, como psicológico e comportamental. O estatuto do cão passou a ser, no final do século XX, o de animal de companhia, mesmo quando utilizado para a caça, guarda ou trabalho. |
Comportamento espontâneo do cão em matilha
As condições de vida do cão doméstico não lhe permitem a formação de grupos com as dimensões suficientes para neles estabelecer um sistema hierárquico tão complexo como o do lobo. No caso dos lobos, a matilha constitui uma unidade social na qual a hierarquia, o jogo e a solidariedade permitem manter a coesão do grupo, aumentar o índice de sobrevivência e facilitar a reprodução. |
As matilhas de cães selvagens não só defendem o seu território como também podem adoptar novos membros provenientes de grupos de cães vadios ou selvagens. |
Cães vadios e cães selvagens
Nos Estados Unidos e em determinados países da Europa, existem muitos cães vadios que, raramente, se encontram em contacto com o homem ou que, por força das circunstâncias, se tornaram completamente selvagens. Congregam-se na periferia das grandes cidades, em locais públicos ou em zonas de livre acesso que não se encontrem sob a vigilância directa do homem mas, também, em zonas agrícolas ou florestais. |
Classificam-se esses cães, designados pela expressão "free ranging dogs" (FRD), como animais pertencendo ou não a um dono. De entre esses canídeos, existem aqueles que o proprietário deixa em liberdade durante grande parte do tempo e outros que deixaram de ter dono, quer por se terem perdido quer por terem sido abandonados. |
A partilha hierárquica da alimentação
No seio de uma matilha de cães existe uma hierarquia complexa. O modo de alimentação dos canídeos selvagens permite-lhes ingerir, em pouco tempo, uma grande quantidade de alimentos após a captura de uma presa. Não comem, forçosamente, todos os dias pois as caçadas não são sistematicamente bem sucedidas. Têm necessidade de encontrar presas mas estas não se conservam e têm, também, de competir com outros animais. |
Uma vez capturada uma presa, os cães dominantes têm a primazia. Para poder aceder à alimentação, os dominados devem manter-se a uma certa distância e esperar pelo final da refeição dos dominantes. |
O comportamento de eliminação: um bilhete de identidade individual
Ao nível dos canídeos selvagens, o comportamento de eliminação, para além do papel fisiológico, constitui um meio de comunicação olfactivo. Processa-se, fundamentalmente, por meio das feromonas contidas na urina, fezes e secreções vaginais. Essas feromonas fornecem indicações sobre o sexo, estado fisiológico e posição hierárquica do emissor. |
Relações entre dominantes e dominados
Numa matilha, o cão dominante controla a ocupação do espaço para o repouso da própria matilha bem como as deslocações dos seus súbditos. Os cães dominantes dormem na zona central do círculo formado pela matilha. O espaço subdivide-se em círculos concêntricos onde se posicionam os diferentes níveis hierárquicos. Quanto mais perto estiverem do cão dominante, mais alta será a sua posição hierárquica. |
O cão dominante controla a sexualidade do grupo e apenas ele pode manifestá-la diante dos outros componentes da matilha. Os dominados só podem reproduzir-se fora do seu alcance visual. Os cães da cidade nunca vivem numa verdadeira situação de matilha, enquanto que, em meios rurais, esse comportamento tem maior probabilidade de se verificar. |
As feromonas são substâncias químicas excretadas por um ser vivo para o meio exterior passíveis de serem detectadas pelo olfato de outro ser vivo e que desencadeiam neste uma resposta comportamental e fisiológica. As feromonas são produzidas por diversos órgãos: as glândulas dos sacos anais, as glândulas circum-anais, as glândulas interdigitais, a glândula existente na zona dorsal da cauda. Quando dois cães se encontram, são exatamente as zonas do corpo com o maior número de glândulas as que são farejadas. | ||
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