30 janeiro, 2010

As Características dos cães de raças gigantes

NEM TODOS OS MOLOSSÓIDES SÃO GIGANTES E NEM TODOS OS GIGANTES SÃO MOLOSSÓIDES !


Os cães gigantes representam 28 raças (Tabela I) « cujo tamanho ultrapassa com grande diferença o de outros cães » e que pesam de 45 a mais de 100 kg. Em alguns países os cães gigantes representam mais de 10 % dos registros nos livros oficiais. Todavia sob o ponto de vista das necessidades nutricionais eles representam 15 % do volume total de alimento consumido.

Tipo Dogue Tipo Montanha Outros tipos
Broholmer Terra-Nova Pastor de Anatolie
Bull Mastiff Bouvier Bernois Pastor do Cáucaso
Cane Corso Mastin dos Pirineus Irish Wolfhound
Dogue Alemão Mastin Espanhol Kuvasz
Dogo Argentino Montanhês dosPirineus Komondor
Dogue de Bordeaux Montanhês Português Saint Hubert
Cão do Tibet Léonberg
Fila Brasileiro Landseer
Mastiff Sarplaninac

Mastin Napolitano

Rottweiler

Tosa

Tabela I. As 28 raças de cães gigantes.

A fisiologia dos cães gigantes adultos está pouco adaptada à vida em ambientes fechados ou a proprietários sedentários. Símbolo de virilidade para uns e de força para outros, os cães gigantes são excelentes companheiros para pessoas dinâmicas e com um bom orçamento. O custo diário de um cão gigante é maior que o de um cavalo. Considerando as dificuldades e o custo elevado dos tratamentos veterinários, função do peso do animal, é evidente que a prevenção das doenças deve ser encarada como uma preocupação primordial.

CARACTERÍSTICAS DOS CÃES GIGANTES
NECESSIDADES ENERGÉTICAS

A necessidade energética basal de um cão gigante é de 40 a 50 kcal por kg de peso ao dia. Em consequência disso, a quantidade de alimento ingerido diariamente por um cão gigante adulto varia 600 a 2000 g dependendo da raça, estado de vida e tipo de alimento utilizado. Suas necessidades energéticas, função da raça, variam de 80 a 180 % das necessidades teóricas médias (ou seja de 132 kcal/kg PV0,75

Em alguns casos o volume de alimento é grande e a utilização freqüente de refeições mistas, alimento industriais e misturas tradicionais é pouco justificável economicamente.

Embora vivam freqüentemente em ambientes externos, o volume e o aspecto das fezes devem ser considerados pelos proprietários. Fezes moles e evacuações muito freqüentes são características de alguns cães gigantes8. As causas deste fenômeno é um trato gastrointestinal cujo tamanho e peso são desproporcionais (3 % do peso do animal, em comparação a 7 % para os cães de raças pequenas), e uma menor duração do trânsito digestivo15.

Salvo estas particularidades digestivas, observamos que a incidência de algumas doenças (dilatação-torção gástrica, problemas osteo-articulares) é maior entre os cães gigantes do que entre os cães de raças pequenas. Uma pesquisa da Universidade de Purdue15 com 42 076 cães de 5 raças gigantes levados a consultórios veterinários (Dogue Alemão, São Bernardo, Rottweiler, Terra-Nova, Bouviers Suiços), ilustra a predominância de alguns problemas patológicos.

4 753 cães, ou seja, 11 % dos animais apresentavam :
  • problemas ósteo-articulares (73 %)
  • dilatação-torção gástrica (14 %) ou
  • problema cardíaco (13 %).

Figura 1. Freqüência de diagnóstico dos 3 tipos de patologias predominantes entre os cães gigantes em função da idade.

A DILATAÇÃO-TORÇÃO GÁSTRICA

Neste estudo, a dilatação-torção gástrica representa 1,53 % das doenças diagnosticadas em cães gigantes, qualquer que seja a idade. A incidência varia com a idade, mas é máxima para os cães idosos de 7 a 10 anos.

O Dogue alemão representa 73 % dos casos.

A dilatação-torção gástrica se caracteriza por uma dilatação ou expansão do estômago seguido de uma torção. Como consequência, qualquer trânsito se torna impossível, até mesmo o vômito. Perturbações circulatórias e respiratórias levam muito rapidamente a um estado de choque muito perigoso, seguido da morte do animal.

Este acidente acomete principalmente os cães gigantes adultos. Sua incidência aumenta com a idade e varia de 2 a 10 %. A profundidade da caixa toráxica e a ingestão de refeições volumosas parecem ser os dois fatores que favorecem esta patologia. Uma pesquisa epidemiológica ilustra a correlação negativa entre o volume da refeição e a incidência da dilatação-torção gástrica entre os cães gigantes14.

Além disso, a dilatação-torção gástrica parece ser facilitada pela ingestão de uma grande quantidade de ar. Apesar de ser um assunto muito discutido, uma análise da composição do gás acumulado em casos de dilatação-torção gástrica reforça esta hipótese. A título preventivo, é conveniente adotar medidas indispensáveis para diminuir a velocidade de ingestão do alimento.

Alguns artifícios que permitem evitar que cães gigantes se transformem em « aspiradores » gigantes incluem colocar o alimento em locais mais altos, colocar alguns objetos no recipiente a fim de diminuir a ingestão de alimento (bola de tênis), a distribuição de várias refeições em quantidades pequenas ou a reidratação da ração para estimular o esvaziamento gástrico.

Da mesma forma, convém diminuir o exercício antes e após as refeições bem como evitar a distribuição das refeições a noite ou antes de sair, pois a observação dos primeiros sintomas e uma intervenção apropriada podendo evitar que o animal venha a óbito.

AS DOENÇAS ÓSTEO-ARTICULARES
Mais de 8 % dos cães gigantes levados a consultórios veterinários que participaram deste estudo apresentaram lesões ósteo-articulares. Mais de 61 % dos cães afetados eram cães Rottweiler dentre os quais 80 % eram cães com menos de 4 anos. O Rottweiler e o Terra-Nova são os mais afetados com 11,6 % dos casos.

Considerando o peso corporal dos cães gigantes e as pressões mecânicas às quais seus tendões, ossos e articulações são submetidos, as doenças ósteo-articulares (osteocondrose dissecante, displasia coxofemural, artropatias) são freqüentes. Embora o desenvolvimento e o crescimento sejam fortemente determinados por fatores genéticos, a alimentação e o exercício podem agir como moduladores. Convém diminuir a ingestão energética, que favorece um crescimento muito rápido e desarmonioso. Um controle rigoroso da curva de crescimento, passa seguidamente por pesagens semanais. É preferível ter um cão gigante « magro » durante os 8 primeiros meses de vida.

Lesões da cartilagem articular causam freqüentemente manqueira entre os cães gigantes. Para os cães pequenos, há várias alternativas de tratamento como a cirurgia, a imobilização e os cuidados pósoperatórios (medicação e curativos), em cães gigantes é mais difícil.

AS AFECÇÕES TUMORAIS
Vários estudos epidemiológicos confirmam a prevalência de tumores em cães de raças gigantes2,4,11. O osteosarcoma, um tumor malígno dos ossos, é mais freqüente entre os cães. Enquanto que entre os cães pequenos com menos de 10 kg o risco é 1%, entre os cães de 20 a 35 kg o risco é 8% e para os cães gigantes mais pesados o risco é 60%5.

A fisioterapia é possível em alguns casos, a rádio ou quimioterapia aplicada de forma devidamente correta, sobre um cão gigante, é extremamente difícil; devido seu peso.

O fato do tratamento cirúrgico ou paliativo das lesões serem extremamente caro e o prolongamento da vida obtido pouco significativo faz com que sua adoção seja dissuasiva.

AS CARDIOMIOPATIAS
A probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares são significativamente maiores para os cães gigantes4. Na verdade, a probabilidade de óbito devido a problemas cardiovasculares é 3.7 vezes maior para os cães gigantes de 4 a 7 anos do que para os outros cães. Os dados de Purdue confirmam estas afirmações. 1,8 % dos cães de raças gigantes levados a consultórios veterinários que participaram desta pesquisa apresentavam sintomas cardíacos de origem não congênita. O Dogue alemão e o Terra-Nova foram mais afetados (2.7 %) que o Rottweiler (0,6 %) ou o São-Bernardo (1,1 %).

A cardiomiopatia dilatada ou CMD é uma síndrome predominante entre as patologias cardíacas e se caracteriza por uma dilatação ventricular provocada por uma insuficiência cardíaca. O músculo cardíaco se torna incapaz de se contrair e de assegurar uma circulação sangüínea satisfatória.

Além de fatores nutricionais, fatores genéticos estão implicados na incidência desta síndrome, cujo tratamento é apenas sintomático.

Levando em conta fatores que limitam a execução e a eficácia do tratamento, o provérbio «é melhor prevenir do que remediar» é especialmente válido para os cães gigantes, cuja expectativa de vida é bem menor do que a dos cães de outras raças.
É indispensável incluir na dieta ingredientes que diminuem o risco de aparecimento e o desenvolvimento de qualquer doença.

UM CROQUETE GIGANTE PARA UM CÃO GIGANTE
A velocidade de ingestão do alimento, o volume de seus componentes e uma distenção muito grande do estômago são variáveis que devem ser controladas em caso de dilatação-torção gástrica. Todas as medidas devem visar :
  • diminuir a velocidade de ingestão;
  • limitar a ingestão concomitante de ar;
  • evitar uma distenção muito grande do estômago;


A concepção de croquetes gigantes é fruto de observações de campo dos hábitos alimentares dos cães gigantes. Testes de campo realizados com croquetes de diferentes formas e tamanhos permitiram determinar a forma ótima dos croquetes «gigantes». O volume e o formato destes croquetes garantem uma diminuição da velocidade de ingestão do alimento pelos cães glutões favorecendo a mastigação e contribuindo desta maneira para diminuir a aerofagia durante as refeições.

Sua utilização deve somente favorecer a diminuição da freqüência de regurgitações.

AS NECESSIDADES ENERGÉTICAS

Os dados obtidos para os cães « gigantes » do Centro de Pesquisa confirmam as observações a campo sobre as necessidades energéticas de algumas raças gigantes. Estas necessidades variam de 90 a 180 % dos valores teóricos em função da classe a qual a raça pertence (Tabela II).

Considerando o fato de que os cães gigantes vivem principalmente em ambientes externos, a necessidade de diminuir o volume de alimento e as necessidades diárias bastante elevadas, a densidade energética do alimento (DER) é aumentada para 4 210 kcal/kg.
Peso do cão (Kg) Quantidade diária de alimento em g

ClasseI ClasseII ClasseIII
45 505 455 910
46 515 460 925
47 520 470 940
48 530 475 955
49 535 485 965
50 545 490 980
55 585 525 1055
60 625 560 1120
65 660 595 1190
70 695 630 1255
75 735 660 1320
80 770 690
85 805 725
90 840 755
95 870 785
100 905 815

Tabela II. Necessidades energéticas de cães gigantes em função da Classe de sua raça.

Classe I : Cães gigantes exceto os das classes II e III.


Classe II: Terra Nova, Cão do Tibet, São-Bernardo, Montanhês dos Pirineus, Léonberg, Mastin Espanhol, Bouvier Bernois.


Classe III: Dogue Alemão, Irish Wolfhound.


O MOVIMENTO É ASSEGURADO GRAÇAS À CONDROITINA E À GLICOSAMINA

A osteo-artrite é uma doença caracterizada por uma interrupção do tecido colagênico, uma perda da matriz cartilaginosa e uma exposição eventual do osso subcondral. A incorporação de glicosaminoglicanos na dieta (glicosamina e sulfato de condroitina) visa diminuir a degradação, inibindo as enzimas responsáveis pela destruição articular. Os benefícios preventivos e curativos destas moléculas com um tropismo especial para as articulações são conhecidos há muito tempo7.

Entretanto, vários estudos demonstram a necessidade de proteger as articulações antes de qualquer alteração (condroproteção). A eficiência dos condroprotetores, tais como a glicosamina e o sulfato de condroitina, dependem da presença de células articulares íntegras que assegurem o reparo1,13.

OS ANTI-RADICAIS E A LONGEVIDADE

Os anti-radicais protegem a membrana celular da oxidação e prevenindo assim alterações genômicas e algumas mutações responsáveis pelo desenvolvimento de cânceres3,9. Desta forma, os antioxidantes retardam o desenvolvimento de cânceres espontâneos 6.

Estudou-se a capacidade dos anti-radicais estimularem o reparo do DNA em seguida a uma agressão oxidante, potencialmente mutagênica.

A vitamina E é um antioxidante biológico dos fosfolipídeos de membrana. Ela protege as células contra a ação antioxidante dos radicais livres, principais agentes do envelhecimento. A eficiência da vitamina E depende da presença de vitamina C, que permite a regeneração da vitamina E. As reservas de vitaminas E e C do organismo diminuem quando os fenômenos oxidativos se aceleram. Portanto, o enriquecimento da dieta em vitamina C e E permite combater a diminuição das reservas reservas do organismo em moléculas antioxidantes e é potencialmente benéfico para combater o envelhecimento celular precoce em cães de raças gigantes.

A integração dos antioxidantes nos alimentos para cães «gigantes» tem como objetivo:

  • diminuir o aparecimento e o desenvolvimento de tumores;
  • melhorar o rendimento cardíaco;
  • reduzir os efeitos anti-inflamatórios a nível de sistema locomotor;
CARNITINA E TAURINA, UM AUXÍLIO NA FUNÇÃO CARDÍACA

A carnitina é considerada uma vitamina. Os cães a utilizam para o transporte de ácidos graxos de cadeia longa através da membrana das mitocôndrias onde os ácidos graxos são oxidados para fornecer a energia indispensável à célula. A carnitina existe sob a forma L e D mas somente a forma L possui atividade biológica. A carnitina não é considerada essencial, pois na maior parte das situações os cães a sintetizam a partir de dois aminoácidos, a lisina e a metionina. Se houver uma deficiência nas enzimas necessárias para esta síntese, a carnitina se torna um fator limitante para a produção de energia.

Sabendo que a oxidação dos ácidos graxos é a principal fonte de energia para o coração, a função da carnitina no metabolismo cardíaco é inegável. Embora nenhum estudo permita apontar a deficiência em carnitina como causa do desenvolvimento de cardiomiopatias, a utilização de carnitina associada a taurina na dieta forneceu resultados terapêuticos interessantes. A L-carnitina é indispensável para o transporte de ácidos graxos através das membranas das mitocôndrias, a taurina contribui para a regulação da concentração de cálcio nos tecidos e proteger contra patologias do rítmo cardíaco12.

O alimento « giant » leva em consideração as particularidades morfológicas e patológicas dos cães de raças gigantes.
  • A forma dos croquetes favorece uma diminuição da velocidade de ingestão do alimento, otimiza a salivação e a mastigação do alimento e acalma o comportamento voraz destes cães.
  • A concentração energética diminui o volume de alimento e otimiza a digestão.
  • A adição de glucosaminas e de sulfato de condroitina diminui o risco de alterações articulares.
  • O enriquecimento em carnitina e taurina preserva o bom funcionamento cardíaco.
  • O teor elevado em vitaminas E e C diminui o envelhecimento celular causado pelos radicais livres.


REFERÊNCIAS

1. ALTMAN RD, DEAN DD and al. Therapeutic treatment of canine osteoarthritis with glycosaminoglycan polysulfuric acid ester. Arthritis and Rheumatism, Vol.32, N° 10 (October 1989) : 1300-1306.

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3. COOK JD, REDDY MB., HURRELL RF. The effect of red and white wines on nonheme- iron absorption in humans. AJCN 61 (4) ; 800 – 804.

4. DEEB JB, NORMAN SW. Studying longevity and morbidity in giant and small breeds of dogs. Life expectancy. Supplement to Veterinary Medicine. 702-713.

5. DELISLE F, DEVAUCHELLE P. Les ostéosarcomes du chien. Le Point Vétérinaire, vol. 27, n° 174, mars 1996.

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9. LUST G, WILLIAMS AJ and al. Effects of intramuscular administration of glycosamminoglycan polysulfates on signs of incipient hip dysplasia in growing pups. AM J Vet Res, 1992, 53 (10), 1836-1843.

10. OKUDA T. Natural polyphenols as antioxidants and their potential use in cancer prevention. Polyphenolic Phenomena, Ed.A Scalbert ed. INRA Editions, Paris, 1993 ; 221 – 235.

11. OLGIVIE GK, MOORE SA. Manuel pratique de cancérologie vétérinaire Editions du Point vétérinaire, 1997.

12. PION PD, SANDERSON S, KITTELSON MD. The effectiveness of taurine and levocarnitine in dogs with heart disease. Veterinary Clinics of North America : Small Animal Practice, volume 28, n°6, November 1998.1495-1514.

13. PIPITONE VR. Chondroprotection with chondroitin sulfate. Drugs exptl ; Clin. Res. XVII(1)3-7(1991).

14. THEYSE LFH, VAN DE BROM WE, VAN SLUIJS FJ. Small size food particles and age as risk factors for gastric dilatation volvulus in great Danes. The Veterinary Record , July 11, 1998 : 48-W50

15. Veterinary Medical Data Base, Purdue University, Purdue (USA )08.99.

16. ZENTEK J, MEYER H. Verdaulichkeit und fäkale Wasserausscheidung – ein Vergleich zwischen Doggen und Beagles; Kleintierpraxis 38, 1993; 311-318.

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